Outras Palavras
PROJETO DE EXTENSÃO “OUTRAS PALAVRAS”

Breve histórico

O projeto de Extensão Universitária “Outras Palavras”, foi um projeto da Universidade Federal Fluminense/Departamento de Serviço Social de Campos, que esteve em funcionamento entre os anos de 1994 a 2000, sob a coordenação da Prof.ª Isabel Cristina Chaves Lopes. O Projeto teve suas ações inciadas na comunidade do Parque São José, em Campos dos Goytacazes, município do Rio de Janeiro, estendendo-se depois para outros bairros, na mesma cidade. Ele surge do estímulo dado pelo curso de Serviço Social a realização de projetos de extensão por parte de seus docentes e profissionais técnicos e também pelo fato da docente estar à época participando de alguns espaços de organização política da sociedade civil, como por exemplo, o Movimento Nacional de Meninos(as) de Rua. As experiências vivenciadas junto a esta entidade possibilitaram a docente observar que a presença de meninas, com as características do público alvo deste movimento, demandava intervenções muito próprias, para as quais ela identificava a produção de pouco conhecimento científico acessível. É a partir, imediatamente destes dois elementos, que nasce este projeto de extensão. Seu propósito inicial foi conhecer as realidades de adolescentes mulheres de camadas sociais pauperizadas e posteriormente, ao mesmo tempo, intervir nestas realidades de forma objetiva e subjetiva. Sua elaboração, configurou-se, como uma experiência de articulação de trabalho interventivo profissional com demandas e experiências advindas dos movimentos sociais, no caso, mais enfaticamente, do Movimento Nacional de Meninos e Meninas de Rua (MNMMR) e do Movimento Negro. No entanto, em sua aplicação, o projeto contou com consideráveis apoios de entidades sindicais através de suas seções locais.
O trabalho realizado caracterizou-se como uma fase inicial de estudos sobre relações entre arte, trabalho e educação, relação esta configurada como uma mediação no processo da educação para o exercício ético, para o desenvolvimento do pensamento crítico e para a afirmação da diversidade social enquanto categoria ontológica. As suas atividades básicas giraram em torno da realização de oficinas de trabalhos artísticos nas áreas de balé, jazz, desenho, escultura, teatro, musicalização e confecções artesanais em papel reciclado e jornais (cestarias de jornais). Além destas, foram oferecidas também oficinas de meio ambiente, informática e iniciação à fitoterapia, sendo todas
acompanhadas de estudos, fundamentação teórica, discussões e ações interdisciplinares com a equipe.
O público alvo do Projeto:

O publico alvo do Projeto foi formado basicamente por adolescentes na faixa etária entre doze e dezessete anos, cujas famílias apresentavam renda mensal de até 3,5 salários mínimos e possuíam baixa escolaridade. Inicialmente as ações ocorreram na Comunidade do Parque São José, sendo estendidas posteriormente às comunidades Favela do Oriente e Favela do Matadouro. Nesta última o Projeto permaneceu por mais tempo e desenvolveu mais diversidade de ações. Além das adolescentes, compôs também o público atendido por este trabalho, mulheres adultas, em sua maioria mães das assistidas pelo projeto. Contabilizamos uma média de trinta adolescentes participantes constantes do projeto entre 1995 e 1999.
Objetivos:

A partir das oficinas de arte e de artesanato, a tônica dos trabalhos desenvolvidos era direcionada para o exercício da criatividade, como um ingrediente importante ao desenvolvimento do senso crítico. Estas ações eram reforçadas por outras oficinas, como a de meio ambiente e de informática, e por discussões para a formação de uma experiência associativista assentada em valores como solidariedade, criticidade, exercício da autonomia e respeito a diversidade. Em função disto o projeto intencionava:

  • Conhecer e intervir na realidade de meninas de camadas sociais mais afetadas materialmente pelas desigualdades sociais do país e do município;
  • Realizar trabalho educativo, a partir do recorte de gênero feminino, voltado para o desenvolvimento do senso crítico, através da motivação à criatividade e percepção do poder da produção humana;
  • Fomentar a organização de uma associação de produção artesanal com papel reciclado a partir de um modelo de sistema cooperativado.
  • Promover a inserção alternativa de mulheres de camadas de baixa renda no mercado de trabalho, através de uma linha de produção cooperativada;
  • Propiciar, através das oficinas de arte e de artesanato e do acompanhamento do Serviço Social, um maior desenvolvimento da coordenação motora, de habilidades
    individuais, da destreza no pensar e no agir, da memória, da atenção, da participação ativa, da inteligência e da fantasia;
  • Garantir às suas integrantes domínio intelectual das atividades desenvolvidas, pensando o produto e as ações da produção, da comercialização e da divisão dos ganhos financeiros;
  • Estimular o exercício da cidadania solidária.

Metas do Projeto a curto, médio e longo prazo durante os anos de sua realização:

  • Alcance de uma maior articulação com as famílias das integrantes do projeto;
  • Alcance de uma maior articulação com as escolas frequentadas pelas integrantes do projeto (redes estadual e municipal de ensino), buscando uma melhoria na freqüência e no desempenho escolar das mesmas;
  • Articulação com a Secretaria Municipal de Educação e fundação Municipal da Infância e Juventude (Campos dos Goytacazes);
  • Reintegração das adolescentes atendidas ao sistema escolar;
  • Instrumentalização das adolescentes atendidas para uma melhor inserção no mercado de trabalho;
  • Realização de parcerias institucionais junto a órgãos públicos e privados;
  • Ampliação, em 50%, da comercialização dos produtos oferecidos pelas oficinas realizadas;
  • Conquista de um maior entrosamento dos membros da equipe de trabalho na ótica da interdisciplinaridade;
  • Criação e solidificação de núcleos de arte nas comunidades atendidas;
  • Implantação do Projeto de Coleta Seletiva de Lixo na UFF em articulação com as comunidades atendidas.

Subprojetos:

O Projeto contou também com alguns subprojetos:

  • 1-Pró – vivência (1995): Em 1995 o projeto passou por uma revisão, passando a incorporar não somente desenho e artesanato, mas outras atividades artísticas como o ballet e a escultura em argila e papel machê. Foi neste ano também que foi inciado o trabalho com reciclagem de papel. Um dos primeiros passos para colocar o projeto em prática nesta nova versão foi a realização de mobilizações nas comunidades nas quais o trabalho seria desenvolvido. A finalidade era mobilizar e demonstrar a importância do que iria ser realizado pela universidade. Isto foi feito
    através de abordagens e visitas domiciliares para participações no encontro Próvivência, que teve a duração de um dia e ocorreu no Centro Integrado de Educação Pública Dr. Nilo Peçanha (CIEP da Lapa).
  • Objetivos:
  • Apresentar o projeto “Outras Palavras” às comunidades onde se pretendia a realização do mesmo, oferecendo informações acerca das atividades ofertadas e realizando a apresentação da sua equipe componente;
  • Possibilitar, ao público prioritário do projeto de extensão, um primeiro momento de contato direto com as atividades que seriam oferecidas na forma de oficinas;
  • Realizar a escolha e uma inscrição prévia em alguma das oficinas de arte oferecidas: desenho, ballet e escultura.
  • 2-Educação alimentar (1997) – “Cozinha Prática: Uma proposta alternativa de conhecimento e consumo do potencial vitamínico dos vegetais” foi um curso de caráter eminentemente prático, ministrado pelo engenheiro agrônomo Luiz Sérgio Campos Coutinho, contando com uma parte teórica ministrada pela professora Maria Camila Pereira Coutinho. As participantes eram donas de casa e líderes comunitárias. O trabalho foi coordenado pela assistente social Neidimar Miranda.
  • Objetivos:
  • Realizar aproveitamento racional de todos os produtos da agricultura enfatizando as verduras, legumes, frutas da região e época;
  • Propiciar a redução dos custos da alimentação;
  • Proporcionar uma alimentação rica nutricionalmente e com isto reforçar o sistema imunológico, evitando as doenças causadas pela desnutrição;
  • Fortalecer o organismo humano com uma alimentação mais rica, saudável e com sabor inalterado;
  • Treinamento objetivo para os difusores, líderes da comunidade, mães de família do meio rural.
  • 3-Tempo de Cuidar (1999) – Iniciação aos princípios da fitoterapia, foi ministrado por membros da Comissão Pastoral da Terra/Campos dos Goytacazes. O trabalho foi acompanhado pela assistente social Michelle Crystrine Alves de Azevedo.
  • Objetivos:
  • Discutir o uso das plantas medicinais na prevenção e tratamento de doenças.
  • Resgatar o valor das plantas e chás da cultura local; o Construir laços de amizade, companheirismo e solidariedade.
  • 4-Coleta seletiva de lixo (1995-1999) Este subprojeto surgiu do interesse em propagar mais entre a comunidade a discussão sobre a reciclagem do lixo, mais especificamente do papel, como forma de geração de renda e educação para melhor utilização dos recursos do meio ambiente. Sua realização ocorreu através de campanhas periódicas de sensibilização da população e equipe de trabalho, dinâmicas que envolveram palestras, panfletagens, exposição de vídeos entre outras. Realizou-se através de parceria com a ONG SACI (Sociedade de Apoio à Criança e ao Idoso)
  • Este projeto também contribuiu para a geração de recursos financeiros para o projeto “Outras Palavras” e mobilizou muitos segmentos da sociedade local como, por exemplo, os Sindicatos dos Bancários de Campos e Sindicato dos Trabalhadores em Saneamento (STAECON).

Outras atividades:

  • Reuniões semanais interdisciplinares com a equipe, distribuídas em encontros quinzenais para estudos e discussões de textos e outros encontros quinzenais para estudos de caso, análises e planejamentos coletivos das intervenções;
  • Trabalho de acompanhamento escolar das participantes do projeto;
  • Visitas domiciliares;
  • Condução das participantes a visitas a estabelecimento públicos de cultura no estado e no município;
  • Trabalhos específicos com as mães das adolescentes.
  • As intervenções do Serviço Social consistiam em acompanhar as atividades realizadas nas oficinas, desenvolver ações reflexivas com as adolescentes, realizar supervisão dos estagiários em campo, participar em reuniões de equipe, elaborar registros técnicos, relatórios, pareceres avaliativos sobre as usuárias, visitas domiciliares entre outros.

Participação discente:

  • A partir do ano de 1995 o projeto passa a configurar-se também como campo de estágio curricular para os estudantes de Serviço Social, aumentando o número de alunos participantes do mesmo. Contabiliza-se até o ano 2000 a presença de 28 (vinte e oito alunos de Serviço Social), sendo 15 (quinze) de estágio curricular, 04 (quatro) alunas voluntárias para a realização das oficinas de arte (musicalização, jazz, ballet e desenho) e 11 (onze) bolsistas de extensão. Além destes, o projeto contou também com a participação voluntária de 05 (cinco) assistentes sociais, um escultor, um pintor artístico, uma diretora de teatro, uma pedagoga e produziu nove Trabalhos de Conclusão de Curso abordando temas das experiências vivenciadas pelos alunos no estágio.

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